Eu li muito sobre salamandras, adoro anfíbios em geral, mas nunca pensei que eu conseguisse reproduzí-las em aquário. Eu comprei inicialmente duas salamandras, e com sorte consegui que elas fossem um casal: na época eu não conhecia nenhuma maneira de distiguir entre machos e fêmeas, mas reparei que algumas salamandras tinham a cauda bem fina e comprida, enquanto outras tinham a cauda achatada lateralmente e mais curta; comprei uma de cada e futuramente vim a descobrir que a cauda achatada é do macho. Eu até hoje não consegui identificar a espécie das minhas salamandras, mas acredito que elas sejam do gênero Cynops. Se alguém for conhecedor do assunto, por favor, me auxilie caso eu esteja errada. As salamandras são pretas, perto de 11 centímetros de comprimento adultas (incluindo a cauda), e com a barriga riscada de linhas vermelhas brilhantes.
Quando eu as trouxe para casa, minha única certeza era de que elas precisariam de um aquaterrário para morar (já estava montado) e que seria dificil alimentá-las. O terrário era um aquário de 60 centímetros de comprimento, sendo a parte submersa com 18 centímetros de profundidade e muitas plantas já enraizadas (incluindo várias higrófilas), e a parte emersa um quadrado de uns 20 centímetros quadrados, com algumas gibóias plantadas (planta de ambiente muito úmido). Inicialmente eu alimentei as salamandras com tubifex vivos, e depois descobri que elas comiam também artêmias vivas, e até carne vermelha oferecida na ponta de uma pinça. Hoje sei que elas comem também ração para tartarugas (devo confessar que dá bem menos trabalho. As salamandras foram adquiridas no início de 89 e mantidas como únicos habitantes do aquário. Lá pra setembro se iniciaram os preparativos nupciais, logo quando o tempo começou a esquentar.
Eu reparei que as salamandras começaram a andar mais tempo juntas no começo da primavera e que, diferente do inverno, elas passavam quase todo o tempo dentro d’água: essa espécie de salamandra respira também pela pele. Pro final de setembro, a fêmea (chamada Maligna) começou a ficar muito tempo agarrada com algumas folhas de higrófila: ela estava colocando os ovos gelatinosos entre as folhas, que se dobravam e grudavam nas extremidades, como que fazendo um envoltório. O bonito de tudo isso é que dava pra ver alguns ovos mais expostos, e que foi possível acompanhar todo o desenvolvimento do embrião, já que o envoltório dos ovos é uma gelatina totalmente transparente, por onde o embrião faz trocas de alimento e gases com o ambiente.
Pelo que eu me lembro, o tempo entre a postura e o nascimento dos filhotes foi de pouco mais de 10 dias. Quando os filhotes estavam prontos para nascer, dava para vê-los prontinhos dentro dos ovos. Antes do nascimento, eu separei os pais em outro aquário, para que o terrário ficasse somente para os filhotinhos. Foram postos mais de 20 ovos nessa cria, mas poucos filhotes vingaram sobreviver.
O comprimento ao nascer era ao redor de 0,7 cm, eles eram bem finos e dificílimos de ver dentro d’água, pois pareciam minusculas cobrinhas marrons, quase da cor do cascalho do fundo. Depois de várias tentativas, eu descobri que o melhor seria alimentá-los com alevinos de artêmia recém-eclodidos. Suas bocas eram minúsculas e a alimentação foi muito complicada no começo. A medida que eles foram ficando maiores, eu passei a dar tubifex bem pequenos, e depois ainda carne picada. Os filhotes possuem guelras externas para respiração, que somem na metamorfose, que ocorre quando os filhotes atingem perto de 2 cm de comprimento. Nesse época eles saem da água e passam um bom período (alguns meses) quase que exclusivamente na parte emersa do terrário. No caso dos adultos, durante o inverno a preferência é pela parte emersa, enquanto que no verão ficam quase exclusivamente dentro d’água.
O casal voltou a por ovos na mesma época pelos dois anos seguintes (90 e 91) e, apesar de eu ainda tê-los aqui em casa, nunca mais voltaram a se reproduzir.
Há anos e anos as salamandras continuam desovando entre a primavera e o verão, mas devido ao meu trabalho, tenho perdido constantemente esses momentos familiares e, pior do que isso, todas as crias da desova, que eu nem vejo se chegaram a nascer… (Agora as salamandras já estão comigo há 17 ou 18 anos (desde 1986/87) e só agora eu percebi a necessidade de priorizar a família, de forma que desde o ano passado me retirei, temporariamente, da vida comercial, e vim passar mais tempo com meus bichos; o resultado disso… todas as fotos dessa página são da minha família, e nem teve espaço pra todo mundo!
Falando sério, a desova foi um sucesso, uns 15 ovos. Infelizmente, perdi uns 6 para os fungos, mas muitos nasceram. A desova começou em outubro, e foi até fevereiro. Eu ainda não disse, mas o pai da desova é outro, inclusive parece de outra espécie, a barriga é mais laranja, e de cor espalhada de forma mais homogênea. O pai da cria de 89 fugiu e morreu há 5 ou 6 anos, o mesmo fim que teve um fihote que eu ainda criava da mesma época. Abaixo, foto do filhote que puxou a barriga do pai, e ao lado, a mãe.
Como os ovos são gelatinosos (veja foto ao lado), os fungos são um problema sério. Veja aqui uma foto com dois ovos, o da esquerda, íntegro, mas o da direita, esbranquiçado, atacado por fungos. Atualmente, eu mantenho as salamandras em aquários sem filtragem, e acredito que isso possa ter ajudado os fungos; para a primavera desse ano (espero ter a oportunidade de acompanhar mais uma desova) vou montar um aquário com filtro biológico e talvez um pequeno filtro externo com carvão ativado.
A foto a esquerda é de um filhote recém nascido. Os recém nascidos foram alimentados com alevinos de artêmia, e também com aquelas minhoquinhas brancas, de terra; acho que se chamam enquitréias. Depois de nascidos, eu não perdi nenhum filhote; todos os problemas se concentraram nos ovos. Além do fungo, uma outra coisa estranha que acontecia era o filhote não conseguir se soltar da gelatina do ovo, e morrer preso; dois morreram assim, o terceiro, eu consegui salvar pegando o problema na hora certa, e abrindo o ovo com uma agulha para o filhote “escapar”. Ah, mais um detalhe novo: a desova desse ano ocorreu exclusivamente em plantas artificiais, e parece que isso não fez diferença, a não ser que o fungo também possa atacar mais fácil em plantas plásticas, já que as salamandras não conseguem dobrar as folhas, formando um casulo ao redor dos ovos.
Na foto abaixo, a direita, vemos 3 embriões, em diferentes fases do desenvolvimento, ainda dentro dos ovos: o de cima, nascendo, o do meio, em estágio mais avançado do desenvolvimento, e o de baixo, ainda “desenrolando”.
Em leituras posteriores sobre crescimento e reprodução de salamandras eu descobri que a maior parte das espécies é de regiões temperadas do globo, e necessita de um inverno bem frio, quando elas hibernam, para desencadear o processo de reprodução. Além disso, a maioria dos autores cita como temperatura máxima para mantê-las 25 ° Celsius. Existem muitas espécies de salamandras e a postura varia bastante entre elas. A parte a necessidade da sazonalidade para a reprodução, a maioria das espécies se reproduz com certa facilidade em cativeiro. Elas também variam bastante por algumas espécies serem principalmente terrestres, enquanto que outras praticamente não saem da água.
Ao lado vemos um filhote cercado de artêmias vivas, e um caramujo acima. Como a artêmia viva vem do mar, e a salamandra é um bicho tipicamente de água doce, acredito que essa não seja, nutricionalmente, a melhor alimentação, mas, sinceramente, nunca notei problemas. Agora que os filhoes estão maiores tenho alimentado com minhocas e tubifex, os quais eles estão pegando fora da água, diretamente da ponta da minha pinça.
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